A família mais amada de São Bento do Sapucaí (SP) está visitando a Vinícola Villa Santa Maria, no Vale do Baú. Os centenários, coloridos e divertidos bonecões decidiram passar uma temporada no complexo enogastronômico. Eles carregam, além da simpatia e da doçura de suas imagens, décadas de interação com o público da cidade e com os turistas que já passaram o Carnaval na cidade localizada na Mantiqueira paulista. Quem já esteve em alguma folia carnavalesca do município turístico certamente já se divertiu com o bloco Zé Pereira.
Patrimônio cultural e histórico da cidade, a família tem um museu que conta a sua história. Localizado no Mercado Municipal, ele foi inaugurado no dia 25 de janeiro de 2020.
A visita às dependências da Villa Santa Maria foi viabilizada pela Secretaria Municipal de Turismo. A ideia foi ampliar as possibilidades de conhecimento sobre a história da família Zé Pereira, considerando o grande fluxo de turistas à vinícola no feriado de Corpus Christi. A família está devidamente acomodada na entrada da cave, espaço de visitação e de guarda dos vinhos, além de também ser utilizado para eventos corporativos e sociais.
Para a sócia-proprietária da Villa Santa Maria, Célia Pinotti, a visita da querida família Zé Pereira é uma forma de valorizar as expressões artísticas e culturais de São Bento do Sapucaí, um município que tem uma história bastante enraizada em manifestações populares e festividades comunitárias. “É uma honra para nós recebê-los. A família Zé Pereira está guardada nos corações de quem mora na região e dos turistas que visitam esse lugar de tantas histórias e memórias. É uma relação de afeto”, define Célia.
Entenda a tradição
A tradição de construir bonecos gigantes surgiu na Europa, provavelmente durante a Idade Média, conforme narra o site da Prefeitura da cidade. Começou com as religiões pagãs, na expressão de seus mitos, ficando muito tempo escondidos por medo da Inquisição. Chegaram ao Brasil com os portugueses, desfilando inicialmente em procissões e festividades religiosas na figura de bufões ou reproduzindo santos católicos.
Em São Bento do Sapucaí, a tradição dos bonecões começou alguns anos após a fundação da cidade, lá pelo início do século 20.
Surge então um boneco que toma conta das ruas de São Bento. Seu nome se relaciona ao fundador da cidade, Tenente “José Pereira Alves”, como também guarda relação com os batuques e diversão carnavalesca “Zé Pereira” em Portugal no século 19. Sua imagem se relaciona ao coronel, usa paletó, gravata, barba, bigode e sua tradicional cartola. Relaciona-se o nome de Zé Franco ao possível pioneiro, mas sabe-se que os irmãos Antônio e João Cortez não ficaram conhecidos apenas pela conquista ao topo da Pedra do Baú, mas também pela confecção dos bonecões.
Foram com eles que em 1940 o Zé Pereira se fortalece com a chegada de sua esposa Maria Pereira. Os bonecos mais antigos tinham suas cabeças moldadas em barro de olaria (que servia de molde para a face do Zé Pereira) e depois de bem seca começavam a pintura, onde usava-se tinta em pó com clara de ovo para dar brilho. Posteriormente, as cabeças começaram a ser feitas com jornais colados com grude feito de farinha de trigo até ficar com uma textura relativamente forte. A estrutura da cabeça era feita em madeira, em formato de cruz, que além de sustentar o jornal que vinha a ser aplicado, servia como norte para o nariz, olhos e orelhas.
O corpo do boneco era uma armação de jacá de bambu e suas mãos eram feitas em napa e enchidas com areia.
Em 1960, Bento Cortez, filho de Antônio Cortez, passa a confeccionar os bonecos e a responsabilidade dos mesmos passa a ser da Prefeitura Municipal. Em 1970, Bento aprende a arte de esculpir em isopor, substituindo assim as cabeças que antes eram feitas de jornal.
Hoje a família Zé Pereira é a maior manifestação cultural do Município, arrastando multidões de crianças e adultos pelas ruas da cidade nos dias que antecedem o Carnaval, além de datas comemorativas.
Museu
Além disso, a família ganhou um espaço cativo desde 2020, um museu no Mercado Municipal. São três salas de exposição de longa duração, mostrando a história da manifestação cultural no Brasil e a relação com a especificidade de São Bento do Sapucaí. O museu também aborda os modos de fazer esses bonecos, que foram batizados de Zé Pereira, Maria Pereira, Mariinha e Kiko. Também conta sobre Tomé, Amélia, Zé Neguinho, Dieguito e Pablito que foram criados posteriormente, aumentando a família.
Na Villa Santa Maria, a exposição traz também painéis que contam as história dos queridos bonecões.